![]() |
Em Pesqueira, distante 215 quilômetros do Recife, a terra está arrasada e o gado morto no meio da vegetação seca virou uma cena comumRodrigo Lôbo/JC Imagem |
A seca deixou de ser drama exclusivo do
sertanejo. Alastrou-se feito praga, fazendo o caminho inverso, engolindo
tudo rumo ao litoral. Já não é preciso ir muito longe, quilômetros
adentro de Pernambuco, onde dizem que o poder público nunca chega, para
se deparar com um cenário de terra arrasada. O simples trajeto ao
município de Pesqueira, no Agreste do Estado, a 215 quilômetros do
Recife, nos leva a uma viagem ao inacreditável. Gado morto, riachos que
sumiram do mapa, brejos agonizantes. O Agreste virou Sertão.
É entre as cidades de Caruaru e
Pesqueira – passando por São Caetano e Belo Jardim – que a falta de
chuvas e o descaso político causaram uma metamorfose na paisagem. O
verde perdeu a cor. As margens da BR-232 dizem tudo. Convidam o olhar
curioso e assustado de quem trafega por lá. Só nos quase 48 quilômetros
de Belo Jardim a Pesqueira, foram cerca de 30 carcaças de gado flagradas
na última segunda-feira (25) – entre bois, vacas, bezerros, bodes e
ovelhas – denunciando que a falta d’água tem matado bicho e prejudicado
gente.
Em um trecho, um boi morto quase adentra
a pista no sentido da capital para o interior. O animal estava
carbonizado, expediente usado pela população para amenizar o mau cheiro.
Um pouco depois dali, entre a pista e o
cercado de uma propriedade rural, observa-se uma vaca malhada que, pelas
características, havia morrido fazia pouco tempo. Estava ainda inchada,
exalando odor insuportável e cercada por não menos que 40 urubus. Um
vira-lata esfomeado tentava disputar espaço com o bando. Ao redor dela,
outras três carcaças, estiradas há dias, já ressequidas pelo sol
inclemente, sobre um chão de terra onde os ossos de gado morto são mais
comuns que a plantação.
Enquanto a reportagem registrava o
cenário desolador, na altura de Pesqueira, um agricultor que passava de
carroça com seu jumento pelo acostamento da rodovia federal resolveu
parar. Carregava o pouco que conseguiu para levar para casa – o pouco
que seu animal, fragilizado pela seca, era capaz de suportar: dois
garrafões e três baldes de água, além de duas sacolas com algumas poucas
frutas e verduras. “Não chove há ano e meio. Nossa situação não está
fácil”, disse o rapaz, em tom de resignação.
DESESPERO - O trabalhador rural
confessou que, sem vislumbrar melhora num futuro próximo, muitos
criadores de gado estão doando seus bichos antes que eles morram.
Compradores conseguem barganhar bezerros por menos de R$ 100. De tão
enfraquecidos e doentes, alguns não aguentam sequer o transporte até a
capital. Morrem antes.
Na zona urbana de Pesqueira, a água só
vem de 20 em 20 dias, de acordo com o relato da comerciante Creuza
Brito, 63 anos. Quando a reportagem chega, a vizinhança logo rodeia.
Reclama do descaso da gestão anterior e afirma que o prefeito Evandro
Chacon tem se esforçado para, no que depende do poder público, amenizar o
sofrimento da população.
“Do jeito que está fica muito complicado
para a gente. Não chove faz mais de ano. Nem lembro a última vez. A
água nas torneiras, só a cada 20 dias. Quem tem depósito consegue se
segurar. Quem não tem sofre, fica dependendo de carro-pipa”, relata
Creuza. A viagem de volta ao Recife reforça as certezas da ida. O Sertão
se expandiu.
0 comentários:
Postar um comentário