Portando cartazes com palavras como
“vergonha” e “queremos justiça”, além de fotos das vítimas, os
participantes dos atos demonstraram revolta e tentaram mostrar que, ao
contrário do que os desembargadores afirmaram para liberar os acusados, o
clamor popular pela tragédia persiste. No anonimato, um pai mais
exaltado chegou a dizer a uma rádio local que pode se tornar mais um
delinquente. “Não sei que decisão tomar porque não tenho equilíbrio
emocional para cruzar com um cidadão desses aí”, revelou, referindo-se à
possibilidade de encontrar um dos quatro réus ao acaso.
“Se eles (os desembargadores) achavam
que não tinha mais comoção, está provado que tem, sim”, afirmou o
presidente da Associação das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de
Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, reiterando que todos ficaram com
a sensação de um segundo velório apenas quatro meses depois de
enterrarem seus filhos. Ferreira lembrou ainda que, a pedido de
autoridades, familiares e amigos mantiveram a calma para evitar que o
processo fosse transferido de Santa Maria para outra comarca. Mas,
depois da soltura dos presos, revelou que todos estavam se sentindo como
se tivessem sofrido um “desaforo da Justiça”.
O incêndio ocorreu na madrugada de 27 de
janeiro e provocou comoção internacional. Dois sócios da casa noturna –
Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann – e dois
integrantes da banda Gurizada Fandangueira – Marcelo de Jesus dos Santos
e Luciano Augusto Bonilha Leão – estavam presos temporariamente desde o
final daquele mês e responderão a processo por homicídio e tentativa de
homicídio com dolo eventual qualificado por fogo, asfixia e motivo
torpe.
Na tarde de quarta-feira (29), a 1ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul aceitou
pedido dos defensores e relaxou a prisão dos quatro por entender que já
não se faz presente o clamor público, não há qualquer demonstração de
que os acusados venham a interferir no andamento da instrução criminal e
não ver risco de que eles venham a fugir do País porque estão com
passaportes retidos.
No final da noite de quarta-feira (29),
os quatro deixaram a Penitenciária Estadual de Santa Maria sem informar à
imprensa onde passarão os próximos dias. O advogado de Spohr, Jader
Marques, confirmou que seu cliente ficará em Porto Alegre por algum
tempo. Os advogados dos demais réus não retornaram os telefonemas da
reportagem durante a quinta-feira.
A decisão surpreendeu o Ministério
Público, que promete esperar a publicação do acórdão para encaminhar
novo pedido de prisão dos quatro ao Superior Tribunal de Justiça. Os
promotores que trabalham no caso entendem que persiste o clamor popular
em Santa Maria e consideram que, mesmo sem passaportes, os réus podem
seguir para outros países se utilizando das facilidades existentes para
transpor as fronteiras com o Uruguai e a Argentina, distantes menos de
400 quilômetros de Santa Maria.
Fonte: Agência Estado
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