quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sob fortes aplausos, Dona Canô é enterrada em Santo Amaro da Purificação

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Cantora Maria Bethânia segurou o caixão da mãe durante todo o cortejo
Fotos: Mellyna Reis/NE10 Bahia
"Deus lhe pague, Dona Canô". As palavras do padre Elmo Souza da Paróquia de Nossa Senhora das Oliveiras, em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, foram as últimas antes que o corpo da matriarca dos Velloso fosse sepultado no mausóleu da família no Cemitério Campo de Caridade.

Em seu discurso, o religioso agradeceu a centenária mais ilustre do município baiano por ajudar nas obras de recuperação da paróquia. "Descanse em paz e nos deixe essa lembrança de uma pessoa boa", disse o padre emocionado.


O corpo de Claudionor Viana Teles Velloso, Dona Canô, de 105 anos, foi enterrado às 11h, sob fortes aplausos e homenagens da banda da Polícia Militar da Bahia. O velório foi realizado no Memorial Caetano Veloso, seguido de um missa de corpo presente na Igreja de Nossa Senhora da Purificação. Uma multidão lotou as ruas de Santo Amaro para acompanhar o cortejo que começou por volta das 10h. Ao longo do trajeto, os badalos do sino da igreja ecoavam pelas ruas da cidade.

Os filhos mais conhecidos da centenária, Maria Bethânia e Caetano Veloso, não falaram com a imprensa durante as cerimônias. Aparentemente a mais abalada entre os irmãos, a cantora carregou o caixão da mãe durante todo o cortejo. Bethânia saiu deixou o local pouco antes do enterro. "Ela [Bethânia] não gosta de cemitério. Só foi três vezes: no enterro do pai, da irmã e agora da mãe", revelou um amigo da família.

Aos 80 anos, Clara Velloso, a mais velha do clã, agradeceu ao Hospital São Rafael, em Salvador, pelo acompanhamento e por ter atendido o pedido da paciente e deixá-la ir para casa. "Ela [Canô] pediu tanto p'ra ir. Ela queria morrer em casa", e completou, "Foram maravilhosos, todos. Médicos, enfermeiros, faxineiros. Muita dedicação com minha mãe e muito amor", enalteceu.

Clara e o irmão que também é músico, Jota Velloso, confirmaram que a mãe ficou muito abalada com a morte do arquiteto Oscar Niemeyer, também nascido em 1907, e chegaram a hospedá-la em um hotel na capital baiana para melhorar o ânimo da mãe. "É um momento triste, mas também de alegria pelo que ela fez pela cidade e pela forma como criou os filhos", declarou o filho.

O pneumologista Guilherme Montal, que estava no funeral, afirmou que uma ampliação da permanência de Dona Canô no hospital não mudaria o quadro que já era bastante delicado. "Ela [Canô] queria ficar em casa acontecesse o que acontecesse. A família não se perdoaria se ela morresse no hospital", comentou o especialista, ressaltando que a centenária estava lúcida quando expressou o desejo. 


O prefeito eleito de Salvador, ACM Neto (DEM), cujo avô era muito amigo de Dona Canô, e o deputado federal, Nelson Pelegrino (PT), que perdeu a eleição passada para o democrata, foram prestar homenagens à matriarca dos Velloso. Os governadores da Bahia e de Pernambuco, Jaques Wagner e Eduardo Campos, foram ao velório na terça-feira (25).

Dona Canô morreu em casa depois de ter passado uma semana no hospital por conta de uma isquemia transitória. Para  o bisneto Jorge Velloso, a morte no dia de Natal foi bastante simbólica. "Apesar da saudade, os próximos [natais] serão em festa porque é assim que ela gostava. Ela não aceitaria que a família ficasse triste", espera.


Mellyna Reis  
Do NE10/Bahia

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