
A posição é inédita e respalda o
anteprojeto da reforma do Código Penal entregue ao Senado no ano
passado, de acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina).
O entendimento foi aprovado pela maioria
dos conselheiros federais de medicina e dos presidentes dos 27 CRMs
(Conselhos Regionais de Medicina) reunidos em Belém (PA) no início do
mês. Antes disso, o tema foi debatido internamente por dois anos.
“Defendemos o caminho da autonomia da
mulher. Precisávamos dizer ao Senado a nossa posição”, diz Roberto
D’Ávila, presidente do CFM.
O anteprojeto, preparado por uma
comissão de advogados e especialistas, propôs a ampliação das situações
previstas para o aborto legal.
Inclui casos de fetos com anomalias
incompatíveis com a vida e o aborto até a 12ª semana da gestação por
vontade da mulher –neste caso, desde que médico ou psicólogo constate
falta de “condições psicológicas”.
Os conselheiros vão além do anteprojeto e rejeitam a necessidade do laudo desse do médico ou psicólogo.
A posição será encaminhada à comissão
especial do Senado que analisa a reforma do Código Penal. A previsão era
que o parecer final dessa comissão fosse apresentado este mês. O prazo,
porém, foi suspenso para dar mais tempo para debates e análises.
Em 2005, o governo federal estimou em 1 milhão o total de abortos induzidos por ano no país.
DESCRIMINALIZAÇÃO
A posição adotada não significa apoiar o aborto ou a descriminalização irrestrita da prática, afirma D’Ávila.
Mesmo assim, o entendimento não teve unanimidade entre os conselheiros. “Cerca de um terço foi contra”, afirma João Batista Soares, presidente do CRM-MG.
Soares está no grupo que foi contra a
proposta. E diz que o conselho mineiro aprovou um texto contrário à
posição e o enviou ao CFM.
“Não é uma questão religiosa. Enquanto
médicos, entendemos que nossa obrigação primeira é com a vida. Existem
situações especiais que justificam [o aborto]. Agora, simplesmente
porque a mulher não quer ter aquele filho, aí somos contra.”
Para Soares, o apoio ao anteprojeto pode passar o recado que o médico está liberado para praticar o aborto.
D’Ávila discorda. “Não estamos liberando
o aborto. Vamos continuar julgando os médicos que praticam o aborto
ilegal, até que, um dia, o Congresso Nacional torne o aborto não crime.”
Fonte: Folha.com
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