quinta-feira, 20 de junho de 2013

Para sociólogo, protestos refletem insatisfação com modelo de desenvolvimento

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Paulo Martins acha que a ida às ruas pode ser resumida pelo questionamento do modelo de desenvolvimento
Imagem: Keziah Costa/ NE10
Há alguns dias, R$ 0,20 não significavam muito mais que alguns trocados. Mas, quando o valor foi aplicado como aumento sobre a passagem de ônibus em São Paulo, as moedinhas tomaram a proporção da indignação de mais de cem mil pessoas pelo País. Depois de deflagradas, as manifestações se tornaram a forma que a população encontrou de mostrar suas insatisfações políticas, econômicas e sociais. Para Paulo Martins, presidente da Associação Latino Americana de Sociologia, a ida do povo às ruas pode ser resumida pelo questionamento do modelo de desenvolvimento, ou como diriam os próprios manifestantes, "não é por R$ 0,20".

Para o sociólogo, que também é professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Brasil há muitos anos passa pelo que ele chama de "mal estar social". "O mal estar vem das condições de trabalho, dos salários e do modelo de desenvolvimento que estimula o consumo sem limites", acredita Martins, mencionando os pontos que contribuem para o endividamento da população, que se sente tencionada.

Mesmo acreditando que a situação resultasse na volta das mobilizações sociais, o sociólogo admite que não imaginava manifestações com proporções iguais as dos últimos dias. "O que estamos vendo é um milagre, uma mobilização política de alta qualidade", defende.

Martins também  aponta o perfil dos manifestantes, principalmente jovens, como razão de o movimento ter eclodido a partir do problema da mobilidade urbana. "Eles têm que ir para a universidade, procurar emprego e não conseguem se deslocar. Poderia ter sido outro setor, mas isso está afetando todos os centros urbanos do País", analisa.

Mas como o transporte público serviu apenas de estopim para o questionamentos do modelo de vida que é adotado em todo o mundo, o professor acredita na articulação das manifestações nacionais com outros atos pelo mundo. "Essa é uma reação transnacional, que não obedece mais as fronteiras dos países", define. "A própria televisão e a internet diz o que está acontecendo naquela hora, isso gera uma integração", diz Martins.

Sobre os desdobramentos das manifestações, ele acredita que logo a tensão deve diminuir, mas os questionamentos e a pressão por respostas dos governantes deve continuar, gerando uma expectativa ainda maior para as eleições de 2014. "Quem partir na frente respondendo às reivindicações de forma satisfatória é quem vai ser o próximo presidente", aposta. O que pode parecer fácil, segundo Martins, esbarra na dificuldade em que os governos têm encontrado para compreender a profundidade do que é pedido pelos manifestantes.


Do NE10

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