quinta-feira, 9 de maio de 2013

Prostituta recebe medalha em Arcoverde por serviços prestados à comunidade

 / Roberto Franca/Especial para o JC

Roberto Franca/Especial para o JC

ARCOVERDE – Uma das prostitutas mais famosas desta cidade do Sertão, Nivalda Rafael de Siqueira, 64 anos, conhecida como Nena Cajuína, será homenageada pela Câmara de Vereadores. Em data que será marcada, receberá a Medalha Cardeal Arcoverde, uma das comendas mais importantes do município. A iniciativa provocou polêmica e levantou discussões sobre prostituição e preconceitos que cercam a profissão. Cheia de aventuras e sofrimento, a vida de Nena retrata a trajetória de muitas mulheres que acabaram seguindo o mesmo caminho. Mesmo sendo homenageada, ela diz que tem vergonha e não vai receber a comenda.

No primeiro encontro, Nena Cajuína passa o semblante fechado e carrancudo, imagem que desaparece quando a conversa ganha ritmo. A homenageada só concordou em falar com a reportagem do JC após a interferência de uma amiga, a vereadora que propôs a condecoração. O encontro ocorreu em uma casa alugada no bairro São Cristovão. Não fossem as mulheres de short que jogam dominó na sala de entrada, seria um bar como muitos outros. Mas o local também funciona como casa de prostituição.

Nena Cajuína conta que começou a se prostituir aos 13 anos. Sua mãe era lavadeira e ela levava e trazia roupas dos clientes. Entre eles, estavam as mulheres que trabalhavam num bar de prostituição chamado Dina Drink’s. “Fui conhecendo o pessoal e aí achei melhor ficar lá do que carregar roupas. Eu fiquei nesse bar até uns 35 anos. Morava na casa da minha mãe, mas toda noite ia pra lá.”

Achei melhor ficar lá (num bar de prostituição) do que carregar roupas. Eu fiquei nesse bar até uns 35 anos. Morava na casa da minha mãe, mas toda noite ia pra lá.

Nivalda Rafael de Siqueira, 64 anos, conhecida como Nena Cajuína

Segundo ela, a mãe sabia de tudo, mas não reclamava. Quando isso acontecia, Nena afirmava ser dona da própria vida. Antes de entrar na prostituição, chegou a trabalhar como doméstica em Arcoverde, onde nasceu. “No bar, ganhava dinheiro. Quando a pessoa é nova e bonita é bem procurada. Os clientes eram mais os homens da cidade mesmo.”

Depois desse período, Nena Cajuína viajou e ficou em bordéis de Salvador (BA), Recife, Passira, Caruaru (cidades pernambucanas) e Arapiraca (AL). Em cada lugar, passava um tempo e depois voltava à terra natal. “Quando parei, foi para botar um negócio para mim. Agora, fico só tomando conta, ninguém quer mulher velha.”

O primeiro bar ficava no Centro de Arcoverde, por trás da igreja, e funcionou durante cinco anos. “Depois vim para esse local. Bar meu não precisa de nome, basta a minha fama. Todo mundo conhece Nena Cajuína”, diz, justificando a ausência de placa no estabelecimento, que existe há 12 anos.

A homenagem que será prestada a Nena Cajuína foi proposta pela vereadora Célia Almeida Cardoso (PR), 57, e aprovada por unanimidade 
 
Segundo ela, as garotas cobram cerca de R$ 40 por programa, que acontecem em quartos do bar. A maioria das mulheres não quis dar entrevista, mas todas fizeram elogios à homenageada. “Faz quatro anos que trabalho aqui e conheço Nena, ela é uma ótima pessoa”, destaca Poliana da Silva Soares, 22.

UNANIMIDADE
A homenagem que será prestada a Nena Cajuína foi proposta pela vereadora Célia Almeida Cardoso (PR), 57, e aprovada por unanimidade. A parlamentar faz questão de frisar que a medalha não será concedida por serviços prestados, como tem sido divulgado, mas pela pessoa, história de vida, e pelo caráter da homenageada.

Célia Cardoso foi a primeira mulher eleita para o Legislativo de Arcoverde. Para ela, as críticas à iniciativa são puro preconceito. “Se Jesus perdoou Madalena, quem somos nós para julgar?”

Leia mais na edição do JC desta quinta (9)

Pedro Romero 

Jornal do Commercio

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