Desde a Primavera Árabe (iniciada no
final de 2010), o mercado de segurança interna no Oriente Médio teve um
aumento de 18% em seu valor, chegando próximo aos 6 bilhões de euros (R$ 17,4 bilhões) em 2012.
Usado por forças de segurança do mundo
inteiro para dispersar manifestações, as bombas de gás lacrimogêneo
também tiveram destaque recente nas imagens da evacuação do Parque Gezi
em Istambul no último fim de semana e da repressão aos protestos em
diversas cidades brasileiras contra o aumento das tarifas de transporte
público e os gastos excessivos na organização da Copa do Mundo 2014.
Egito e Tunísia estão aumentando suas
compras de equipamentos para controle de distúrbios no momento em que
negociam empréstimos com o FMI para cobrir seus buracos orçamentários.
Na zona do euro, afetada pela crise
financeira, as coisas não são muito diferentes. O orçamento de 2012 do
governo espanhol de Mariano Rajoy enfrenta cortes em praticamente todas
as áreas, mas em equipamentos antidistúrbios o gasto passa de cerca de
173 mil euros a mais de 3 milhões em 2013.
A pesquisadora Anna Feigenbaum, que
investiga a história política do gás lacrimogêneo na Universidade de
Bournemouth, na Grã-Bretanha, acredita que a austeridade e o aumento dos
gastos com segurança interna andam de mãos dadas.
‘Com a austeridade houve uma
intensificação dos protestos e do uso do gás lacrimogêneo. Nesse
sentido, a Grécia está na vanguarda’, disse à BBC. Para a indústria do
gás, nada como as crises econômico-sociais.
A Turquia é um dos casos com mais
cobertura midiática, mas um mapa ( ) dos protestos no mundo onde o gás
lacrimogêneo foi usado, elaborado por Feigenbaum, mostra a expansão do
mercado desde janeiro de 2013.
Como se pode ver no mapa, os protestos
contidos com o uso do gás vão desde manifestações contra o estupro de
uma mulher na Índia a protestos dos estudantes no Chile e dos
professores no México, ou de trabalhadores na França e na Espanha.
Fabricantes
A organização internacional War Resister League (Liga dos Resistentes à Guerra, em tradução livre), que tem uma campanha específica contra o gás lacrimogêneo, identificou a presença de empresas americanas como Combined Systems Inc., Federal Laboratories e NonLethal Technologies da Argentina até a Índia; de Bahrein, Egito e Israel a Alemanha, Holanda, Camarões, Hong Kong, Tailândia e Tunísia.
A organização internacional War Resister League (Liga dos Resistentes à Guerra, em tradução livre), que tem uma campanha específica contra o gás lacrimogêneo, identificou a presença de empresas americanas como Combined Systems Inc., Federal Laboratories e NonLethal Technologies da Argentina até a Índia; de Bahrein, Egito e Israel a Alemanha, Holanda, Camarões, Hong Kong, Tailândia e Tunísia.
A brasileira Condor Non-Lethal Technologies, uma das principais provedoras da Turquia, vende seus produtos a 41 países.
Durante a Primavera Árabe, empresas
americanas exportaram 21 toneladas de munição, o equivalente a cerca de
40 mil unidades de gás lacrimogêneo.
Em termos de manejo de protestos, nada
mudou com a democratização egípcia. Esse ano, o ministério Interior
encomendou cerca de 140 mil cartuchos de gás lacrimogêneo ao mesmo
elenco de exportadoras americanas.
Em fevereiro, o porta-voz do
Departamento do Estado americano, Patrick Ventrell, defendeu o
outorgamento de licenças para a exportação a essas empresas, dizendo que
o gás lacrimogêneo ‘salva vidas e protege a propriedade’.
A empresa brasileira Condor Non-Lethal Technologies usa argumentos semelhantes.
‘As tecnologias não letais são
projetadas para incapacitar temporariamente as pessoas sem causar danos
irreparáveis ou morte. Seus efeitos são totalmente reversíveis. De
acordo com uma recomendação da ONU em 1990, a polícia tem de fazer um
uso proporcional da força por meio de armas não letais em consonância
com os direitos humanos e o respeito à vida’, disse um porta-voz da
companhia à BBC.
A expressão ‘não letal’ aparece no nome e
marca de muitas companhias. Mas o uso dessa expressão é contestado por
especialistas e grupos defensores de direitos humanos, que também
questionam a relação próxima entre a indústria, as forças militares e de
segurança e governos, que permitiu que o uso do produto fosse se
consolidando como arma repressiva favorita ao longo das últimas décadas.
Normalização
Na Primeira Guerra Mundial, o gás lacrimogêneo era classificado como arma química. Mas a partir daí, entrou um cena a força do lobby industral-militar-governamental, como explicou Anna Feigenbaum.
Na Primeira Guerra Mundial, o gás lacrimogêneo era classificado como arma química. Mas a partir daí, entrou um cena a força do lobby industral-militar-governamental, como explicou Anna Feigenbaum.
‘Por pressão dos governos e das
corporações, mudou-se o nome de ‘arma química’ a ‘irritante químico’ ou
‘instrumento de controle de distúrbios’. Isso produziu uma normalização.
O gás que começou a ser usado no ‘controle de multidões’ na década de
30 se generalizou a partir dos anos 60′, disse.
Uma pesquisa pedida pelo governo
britânico sobre o uso de gás lacrimogêneo no fim dos anos 1960 na
Irlanda do Norte contribuiu de forma particularmente significativa para
essa normalização.
A investigação concluiu que não havia
perigo nem para mulheres grávidas, nem para idosos, uma afirmação
duramente criticada pela Anistia Internacional e pela ONG Médicos pelos
Direitos Humanos.
Ambas as organizações sustentam que não é
preciso ser mais velho ou estar grávida para sentir efeitos
‘irreversíveis’ dessas armas não letais. Entre as mortes mais recentes
atribuídas ao uso de gás lacrimogêneo figuram a do adolescente Ali
Al-Shiek Bahrain no ano passado e a do palestino Mustafa Tamini no final
de 2011.
‘Surpreende que, ao mesmo tempo em que
os Estados Unidos aprovam o fornecimento de armas a rebeldes sírios por
causa da suposta evidência de ataques químicos ordenados pelo governo de
Assad, (os Estados Unidos) tolerem a exportação de gás lacrimogêneo.
Nenhum governo deveria aprovar ou pagar pelo uso de armas químicas’,
disse à BBC Mundo Kimber Heinz, da ONG Liga dos Resistentes à Guerra.
Fonte: Uol Notícias
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