Nesta terça-feira (13), três homens foram presos com 450 saquinhos de desirré – conhecida também como "zirrê", "criptonita" e "craconha" – pela Delegacia de Combate às Drogas em uma comunidade do Jardim América, no subúrbio do Rio.
De acordo com Antonio Jorge Goulart, a entrada da desirré no estado, embora tímida se comparada à dos demais entorpecentes, não é uma novidade para a polícia do Rio de Janeiro. "Estamos apreendendo a zirrê desde o início do ano. O consumo está concentrado na cidade do Rio, mas poucas quantidades já foram encontradas em Duque de Caxias e Mesquita (Baixada Fluminense), em São Gonçalo (Região Metropolitana), em Volta Redonda (Sul Fluminense) e em Angra dos Reis (Região dos Lagos)", afirmou.
No mesmo período em que pouco mais de 1 kg da zirrê foi apreendido, a PM recolheu 2 toneladas de maconha e 1 tonelada de cocaína, segundo o tenente-coronel. Os usuários da zirrê, ele explica, normalmente portam poucas gramas do entorpecente, que é fumado. "A quantidade de desirré que apreendemos é menor até do que a quantidade de comprimidos de ecstasy recolhidos. Mas a desirré está chegando, sem dúvida", alertou Goulart.
Porta de entrada para o vício em crack
Há um ano, a zirrê chama a atenção dos profissionais do Nepad, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas, vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Embora o órgão ainda não tenha unificado os dados sobre os atendimentos relativos à droga, a psicóloga Érica Canarim afirma que atualmente atende no Nepad 25 jovens viciados no entorpecente. Segundo ela, a maioria dos dependentes do Rio utiliza a desirré como um primeiro estágio rumo ao consumo de crack. “Os adolescentes raramente vão direto para a pedra de crack. Primeiro, começam com a desirré”, disse.
A psicóloga acrescenta que crack e zirrê têm uma dinâmica circular na vida de quem tenta abandonar o vício da primeira droga. “Vemos pacientes que, no caminho da tentativa de abandonar o crack, retornam à desirré, o ponto de onde eles partiram”.
Atual diretora do Nepad e cofundadora do núcleo, em 1986, a psicanalista Ivone Ponczek enfatiza que a abordagem do tratamento ao usuário de zirrê respeita os mesmos parâmetros das demais drogas. “Nem todos reagem ao consumo de droga da mesma maneira. Procuramos identificar qual a relação de um paciente com determina droga”, diz Ivone, contrária à proposta do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de internar compulsoriamente viciados em crack. “Em alguns casos, de fato não há outra alternativa que não seja a internação. Mas o tratamento não pode ser uma punição. É um direito”, completa.
Cérebro e pulmões afetados
Marta Jezierski, diretora do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, afirmou que a desirré já existia antes no estado, onde é conhecida como “mesclado”. “É mais usado na classe média”, apontou.
A médica disse que o consumo das duas ao mesmo tempo contrabalança os efeitos da maconha e da cocaína – o crack é a cocaína em uma forma diferente, própria para o fumo. “A maconha dá leseira e a cocaína dá agitação”, explicou.
O cérebro é o mais perturbado, sofrendo com as dificuldades de concentração que as duas drogas proporcionam. Um risco sério é o desenvolvimento de psicose, que aumenta em até quatro vezes com o uso da maconha. Com o estímulo trazido pela cocaína, isso pode levar a um comportamento agressivo.
Os pulmões também são afetados, assim como no uso de qualquer outra droga fumada, incluindo o tabaco. Segundo Jezierski, a desirré não é mais nociva ao sistema respiratório do que a maconha ou o crack isolados.
Para o sistema circulatório, o consumo da cocaína representa sempre um risco, pois a droga acelera o coração e contrai os vasos sanguíneos, o que pode levar a um infarto. No entanto, a maconha tem a propriedade de dilatar os vasos, o que, teoricamente, diminui o risco de infartos.
Do G1
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