quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Municípios em crise com redução do FPM. Novo federalismo entra em pauta

Cotado para se candidatar a presidente, Eduardo defendeu debate do novo federalismo um dia após as eleições municipais (Foto: Clemilson Campos/JC Imagem)

Quando anunciou a prorrogação da alíquota reduzida do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor automotivo, na semana passada, a presidente Dilma Rousseff foi aplaudida pela plateia formada por empresários do setor, no Salão do Automóvel de São Paulo. O benefício venceria no próximo dia 31 e, agora, vai vigorar até 31 de dezembro. Quem não gostou da medida foram os prefeitos que estão precisando fazer um verdadeiro malabarismo no orçamento das cidades para ajustar as despesas à queda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Acontece que, no modelo atual de distribuição de tributos no Brasil, os municípios dependem de repasses do governo federal, que centraliza a arrecadação dos impostos mais rentáveis, o Imposto de Renda (IR) e o IPI. Às Prefeituras, cabe o recolhimento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e aos Estados, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Ou seja, quando o governo reduz a alíquota do IPI para incentivar a geração de empregos e o consumo em meio à maior recessão mundial, diminui os repasses para os municípios. A soma da redução do IPI somada com a alta inadimplência tradicionalmente registrada na arrecadação do IPTU não poderia dar em outro resultado além de crise nas finanças.

De acordo com a Confederação Nacional de Municípios (CNM), no primeiro decêndio deste mês, o repasse do FPM foi 8,5% menor do que no mesmo período do ano passado. Isso em valores reais, já corrigidos pela inflação.

Para o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e prefeito de Escada - na Zona da Mata Sul do Estado -, Jandelson Gouveia da Silva (PR), desde 2009 as políticas de incentivo ao consumo promovidas pelo governo federal têm causado rombos cada vez maiores nos cofres das Prefeituras.


"Enquanto que os salários subiram, assim como o custo da máquina pública, como material de limpeza e alimentos, o FPM cai. Por exemplo, só este ano houve um aumento de 14% no salário mínimo e de 22% no dos professores da rede pública", reclama. "A redução do IPI favorece o emprego naquele setor da indústria, mas está tirando um emprego da Prefeitura ou obrigando os municípios a deixarem de prestar um serviço à população, por falta de dinheiro".


De acordo com ele, as cidades dependem entre 60% e 70% do repasse do PFM. Em alguns casos, o repasse chega a representar 90% do orçamento da Prefeitura.

Para driblar a crise, a solução encontrada pelos gestores é os cortes no orçamento. Em Petrolina, no Sertão do Estado, o FPM contribui em 60% do orçamento da Prefeitura. Só este ano, já houve uma redução de 30% no repasse. Com isso, 50 servidores já foram demitidos este semestre. "Vou enxugar para fechar as contas. O FPM é geralmente usado para manter a máquina e para a limpeza urbana. A solução é cortas gastos de pessoal", explicou o prefeito reeleito Julio Lossio (PMDB).

Em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, a situação é pior. Só em agosto deste ano, a redução do repasse foi de 16,15% em relação ao mesmo período do ano passado. O prefeito reeleito Elias Gomes (PSDB) já demitiu 517 funcionários por causa da crise financeira, além de reduzir em 75% os custos com telefonia móvel e fixa. Para driblar a crise, também será melhorado o sistema de arrecadação, já que a inadimplência no pagamento do IPTU é alta. "Claro que a redução do FPM diminui o ritmo dos investimentos também. Vamos iniciar um novo mandato agora com muitos projetos em andamento e vamos priorizar a conclusão do que está sendo feito", lamenta o tucano. A equipe jurídica do município prepara uma ação contra o governo federal pelas quedas nos repasses.


Este mês, Bonito, no Agreste, acionou a Justiça contra a União por causa da prorrogação da redução do IPI.


Insatisfeitos, os prefeitos estão organizando uma marcha em Brasília no dia 13 de dezembro, quando deverão negociar uma solução para a crise com o governo federal. "Estamos pedindo que ela reponha aquilo que é dos municipios de direito, porém foi retirado sem autorização. Isto é inconstitucional", contesta, lembrando que, em 2009, o então presidente Lula deu uma reposição de R$ bilhão no FPM por causa das perdas com incentivos fiscais.

Este ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional o atual modelo de distribuição de recursos do FPM e determinou que até o dia 31 de dezembro fosse aprovada uma nova lei. O caso está sendo debatido no Senado. Já tramitam nove anteprojetos de lei e duas sugestões de matérias.


Além disso, nessa terça-feira (30), o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim apresentou um pacote de propostas. Entre as sugetões, feitas por especialistas, está a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que eleva a parcela de arrecadação do IPI transferida para Estados e municípios exportadores. Depois do Senado, as medidas precisam passar pela Câmara Federal.


Além do Congresso Nacional, o novo federalismo ganhou os discursos de lideranças nacionais. Um dia após o primeiro turno das eleições municipais, já houve sinais de que o novo federalismo estará na pauta das eleições presidenciais de 2014. O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, - que é cotado para se candidatar à sucessão de Dilma, apesar de ainda manter uma aliança nacional com o PT - começou a construir um discurso de oposição, defendendo que a questão seja debatida.


"É fundamental que possamos usar esse acúmulo feito ao longo das campanhas para colocar na pauta do debate nacional o novo federalismo, porque os municípios precisam mais e mais de condições para realizar o seu papel, que é central na estruturação das políticas publicas em setores importantes no entendimento da sociedade", afirmou, durante coletiva de imprensa para comentar o primeiro turno das eleições.


Segundo ele, sua preocupação está pautada pela "mais dura" crise fiscal vivenciada pelos municípios. "Quem foi eleito vai ter que encarar o desafio de melhorar a saúde, educação, mobilidade, saneamento, habitabilidade e a segurança pública", completou.


As declarações do socialista rapidamente estão sendo reverberadas por aliados, na Câmara, no Senado, na Assembleia Legisltiva de Pernambuco (Alepe) e na Câmara dos Vereadores do Recife. Ao que parece, há muito pano para a manga.


Por Gabriela López, do Blog de Jamildo

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