terça-feira, 6 de novembro de 2012

Família que mora a 5 km do palácio da presidente Dilma sobrevive de comida encontrada no lixo

Jéssica e Alessandra têm sete anos e sonham com uma "vida decente" para a família (Foto: Gustavo Frasão / R7)


A apenas cinco quilômetros do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República, hoje ocupada por Dilma Rousseff, crianças e famílias moram em área invadida e sobrevivem do lixo. Do local não é possível ver o Palácio da Alvorada. A presidente Dilma tampouco pode vê-los em seu trajeto quase diário do Alvorada para o Planalto, porque, apesar da invasão estar entre os dois prédios, Dilma passar por uma grande avenida e a invasão fica longe dos olhos da presidente.

Apesar de estarem em área nobre da capital federal, na área do Plano Piloto, as famílias da invasão se alimentam de restos de carne e qualquer outro tipo de comida descartada pela população do Distrito Federal. A garotada espera algum dia poder morar em uma casa e ter uma "vida decente".

A matriarca da família, dona Francisca da Silva, de 62 anos, explica que no local vivem pelo menos 36 pessoas entre filhos, genros, noras e netos. Ela é viúva, o marido morreu há 20 anos de câncer.
— Todos moram aqui mesmo. Cada um se virou para construir seu barraco e vamos levando a vida da forma que é possível.

Eles sobrevivem em uma área pública de aproximadamente quatro mil metros quadrados perto da Vila Planalto, na área central de Brasília, e estão no local há 25 anos.

R$ 200 por mês
Os adultos trabalham recolhendo lixo das ruas, catando latinhas e papéis, mas uma das filhas de dona Francisca, Rosa Maria Albino dos Santos, de 35 anos, explica que a renda total da família não passa dos R$ 200 por mês.

— Não ganhamos o suficiente para viver com dignidade e trabalhamos de forma desumana, porque não temos oportunidade nem ajuda do Estado.

Dona Francisca conta que a principal fonte de alimento, quando não consegue aproveitar nada do lixo, são as mangas. Ela explicou que existem vários pés por perto e aproveita ao máximo quando está na época da fruta.
— As crianças sentem fome e não temos como ajudar, é uma situação complicada que enfrentamos. Quando não é isso (magas) é o lixo mesmo.

Além disso, dona Francisca relatou que uma outra grande ajuda é quando caminhões de lixo, que não prestam serviços ao GDF (Governo do Distrito Federal), jogam perto da invasão restos de alimentos, móveis e utensílios descartados pelos moradores de áreas próximas. Para ela, é uma ajuda sempre "muito bem vinda".

— Enquanto muita gente quer se livrar, nós gostamos quando eles aparecem.
Carne do lixo

Enquanto a reportagem do R7 estava no local, um dos homens da casa, Elcaleno Silva dos Santos, de 25 anos, apareceu com vários pedaços de carne. Ele disse que a comida encontrada no lixo seria o almoço da família naquele dia.

— É o que temos hoje para alimentar as crianças e os adultos. Às vezes nem isso temos, então não posso reclamar. Hoje é um dia bom.

Elcaleno é responsável também por abastecer a família com água. Ele vai a pé todos os dias na Esplanada dos Ministérios para encher os baldes, que ele carrega em um carrinho de mão.

— É uma caminhada boa, dá pelo menos quatro quilômetros e não é sempre que consigo a água.
Água não dá para o banho

No período de seca e calor, a família tenta armazenar água em todos os locais possíveis para as crianças ficarem hidratadas a maior parte do tempo. Dona Francisca afirma que, por conta disso, nem sempre é possível tomar todos os cuidados com a higiene.

— A água é pouca e não temos como gastar lavando as coisas. Guardamos do jeito que dá e oferecemos às crianças, que brincam, correm e precisam de água para matar a sede. Até banho aqui é complicado, fazemos isso só quando temos muita água sobrando.

Depois de brincarem bastante durante a reportagem, duas crianças apareceram e também quiseram participar. Jéssica da Silva e Alessandra dos Santos são primas e têm a mesma idade: sete anos.

Alessandra é mais tímida e gosta de ajudar a mãe com a louça e varrendo a casa, mas adora de brincar de bonecas, pique pega e pique-esconde com os irmãos, amigos e primos, que vivem no mesmo local. Jéssica pensa no futuro melhor e tenta mudar o presente, mas não quer perder o brilho da infância. Ela contou que tenta de todas as formas animar a vida dos pais e familiares para amenizar a situação difícil que enfrentam.
— Eu só queria uma casa e uma vida decente para minha família.



Fonte: R7

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